ALFABETIZADAS ILUSÕES
Eu sei que não deveria mais
me ocupar de ti.
Tua ausência
está demasiadamente repleta de vazios.
Teu silêncio
me envia uma carta todo dia,
mas eu não a leio:
não sei decifrar — será!? —
a caligrafia de um abandono.
Mesmo assim,
a respondo com palavras de ilusão,
molhadas de orvalhos não compartilhados,
encharcadas de lágrimas
cultivadas na aurora de cada solidão.
O tempo tenta
ser o estafeta de todas
as resoluções:
das revoluções
das esperanças,
das resignações
das esperas.
Mas para mim,
no fim,
— bem sei —
falta-me um pouco da sabedoria
dos analfabetismos do amar.
Pouco importa
o que estava escrito,
ou o que se deixou de escrever:
certas palavras não deveriam ser lidas,
nem os silêncios escutados.
Mas o alarme não soou,
e agora é tarde...
tão tarde!
A essa altura da dor,
não consegui mais
aprender,
apreender,
das missivas dos desamores,
algo além
desse eterno enganar-me.