ALFABETIZADAS ILUSÕES

Eu sei que não deveria mais

me ocupar de ti.

Tua ausência

está demasiadamente repleta de vazios.

Teu silêncio

me envia uma carta todo dia,

mas eu não a leio:

não sei decifrar — será!? —

a caligrafia de um abandono.

Mesmo assim,

a respondo com palavras de ilusão,

molhadas de orvalhos não compartilhados,

encharcadas de lágrimas

cultivadas na aurora de cada solidão.

O tempo tenta

ser o estafeta de todas

as resoluções:

das revoluções

das esperanças,

das resignações

das esperas.

Mas para mim,

no fim,

— bem sei —

falta-me um pouco da sabedoria

dos analfabetismos do amar.

Pouco importa

o que estava escrito,

ou o que se deixou de escrever:

certas palavras não deveriam ser lidas,

nem os silêncios escutados.

Mas o alarme não soou,

e agora é tarde...

tão tarde!

A essa altura da dor,

não consegui mais

aprender,

apreender,

das missivas dos desamores,

algo além

desse eterno enganar-me.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 27/09/2021
Código do texto: T7351581
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