ANDARILHO
Já nem sei
por quantas estações passei,
perambulei em cada composição
dos passos,
no vai-e-vem
dos trens,
vaguei nos mares,
nas vagas, mergulhei
viajei nos vagões,
nos porões,
nos salões,
nas marés
me achei,
nas gares
das estradas
de ferro,
de terra,
das farras,
das serras,
indo e vindo,
no fluxo e refluxo
dos bares
me embriaguei,
no influxo
dos olhares,
eu sonhei
no empuxo
dos lugares,
me soltei
nos amores do caminho,
nas flores, nos espinhos
nas dores de ser sozinho
me criei e
cresci
na noite,
no dia,
madrugada fria,
sem uma poesia,
chorei;
no açoite,
me feri,
na agonia
sofri,
na esperança
sorri,
e vivi
uma vida finita
que não se encerra,
apenas anda,
desanda ...
ou emperra.
Foram tantas estações,
tantas primaveras!