AS CHUVAS E AS LÁGRIMAS DE CADA DIA
Tem dias que espero que ela venha,
em outros sóis, desejo nunca encontrá-la
Chamo-a pelo vento,
mas a repilo nas calmarias
descalço,
me desfaço
das amarras,
talvez quisesse ser raiz
a aguardá-la
na avidez,
na aridez
que tua ausência provoca.
Não sei se me lanço
em seus braços molhados,
ou me encastelo nas vidraças,
e a espero despedaçar-se
diante dos meus olhos
em lágrimas que escorrem
na face vítrea da minha reclusão.
Talvez seja melhor
banhar-me em leito seco,
já estou mesmo desidratado
pelas ressecadas horas
de tantas partidas.
Quem sabe, porém,
em algum laivo
de necessárias ilusões
eu a espere na varanda,
numa nostálgica ciranda,
ou em uma noite cigana,
nas calendas de uma lua nova,
e vá com ela
irrigar algum coração,
inundar-me de sonhos
ou de tempestades...
Essas brisas
que ficaram
já são outras,
e as águas,
as mágoas
também!