NOITE
A noite abraçou-me de serena escuridão,
com braços frios, cobertos do calor
de um silêncio inquietante,
ainda mais silente e saliente
que dos seus pares diurnos.
Pôs em mim um colar de estrelas,
da orfandade criada
nos desejos irrealizados
pelas constelações,
convidou-me para contemplar
o vazio terapêutico daquilo
que eu não via,
e precisava tanto ver,
ensinou-me a expectativa
do fruto do amanhã:
selecionou as sementes prósperas do novo sol,
desprezou aquelas estéreis
regadas pelos medos avizinhados.
Ela estava lá...
didaticamente lá,
debulhando-se em profícuos ensinamentos,
divisando os sonhares inócuos dos inspiradores.
Eu que, tolamente, a temia em antanhos,
na cegueira da minha ignorância,
hoje a respeito e a venero
e a procuro avidamente,
como um aluno esforçado,
sedento da sabedoria de suas trevas,
para aplicá-la
no próximo amanhecer,
na carência das minhas luzes
que anseiam por brilhar.