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Ouço-te na primeira hora

com teus cabelos dourados,

a despentear os furacões,

embaraçando-os em brisas

com as escovas e alcovas secretas do teu desalinhar.

Vezes outras são os teus lábios

que amordaçam a boca do tempo

para que toda mudez se curve

diante do teu beijo

e a palavra enclausurada

testemunhe

a inutilidade de qualquer dizer,

quando o silêncio da tua língua

traduzir a linguagem implícita

do desejo.

Eu te sinto em descompassado

frenesi,

vulcão a espalhar-se em larvas

no leito tórrido do teu corpo.

Nas janelas

que se entreabrem para mim,

— assim penso eu —,

percebo-te inacessivelmente excitante,

nas frestas dos amores proibidos

que tua alma fermenta

no meu bojo, no teu seio,

na veia que pulsa

e me impulsiona para ti.

E quando te concebes na imagem

mais sacra do teu inverossímil pudor,

são os meus versos,

iconoclastas,

que te violam,

desenhando-te

em rimas

e ritos de prazer,

aguardando com inquieta sabedoria

se consumarem

para

se consumirem

no mais lírico dos pecados

que meu amor pode te oferecer.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 07/09/2021
Código do texto: T7337274
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