QUESTÃO DE TEMPO
Ouve o tempo
arrastar as suas correntes,
atrasar os passos carentes,
do ciclo das horas coerentes,
circo das estrelas cadentes,
no cerco do picadeiro,
no centro do estardalhaço,
ele foi domador, primeiro,
hoje é apenas um palhaço.
Houve um tempo, nesta esfera
em que ouvíamos nas frestas
o barulho inaudível das festas,
e entre os leões e outras feras
vivíamos na sua razão
a queimar no incêndio,
no lume da imensidão
do seu ardente silêncio.
Agora o tempo se foi e
o que restou de nós?
Esperamos, erradios,
esse futuro que agoniza
apressamos os vazios
que o presente preconiza.
E enquanto não chega
o momento derradeiro,
vamos buscando
como forasteiros
um tempo
que não nos pertence,
que deixamos escorrer
pelos dedos desta vida
cada vez mais ausente.