DOS DESÍGNIOS DO AMOR
Quando ousei ser o primeiro,
padeci da precocidade da chegada,
e só restou-me recolher
migalhas de lembranças
desbotadas pelo tempo
e soterradas
pelas pás e pelos pés
dos que vieram depois
com passos mais fortes.
Quando quis ser o mais rápido,
derrapei nas curvas do açodamento
e da ânsia de ler o amor fora da sua cadência,
virei tantas páginas de uma só vez
que o livro se fechou
sem que eu pudesse me escrever nele por inteiro.
Quando pretendi acalentar indefinidas esperas
fui vencido pela prescrição do sentimento,
e não havia mais páginas em branco para escrever minha estória,
tampouco quem as quisesse lê-las
nos estertores da vista cansada de esperar.
Mas quando conversei com a semente
e compreendi o tempo certo da sua maturação,
no solo sagrado do amor,
fecundei-me em eternidade,
no tempo exato
que ela me destinou possuir.