DOS DESÍGNIOS DO AMOR

Quando ousei ser o primeiro,

padeci da precocidade da chegada,

e só restou-me recolher

migalhas de lembranças

desbotadas pelo tempo

e soterradas

pelas pás e pelos pés

dos que vieram depois

com passos mais fortes.

Quando quis ser o mais rápido,

derrapei nas curvas do açodamento

e da ânsia de ler o amor fora da sua cadência,

virei tantas páginas de uma só vez

que o livro se fechou

sem que eu pudesse me escrever nele por inteiro.

Quando pretendi acalentar indefinidas esperas

fui vencido pela prescrição do sentimento,

e não havia mais páginas em branco para escrever minha estória,

tampouco quem as quisesse lê-las

nos estertores da vista cansada de esperar.

Mas quando conversei com a semente

e compreendi o tempo certo da sua maturação,

no solo sagrado do amor,

fecundei-me em eternidade,

no tempo exato

que ela me destinou possuir.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 01/09/2021
Código do texto: T7333352
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