NADA MAIS
Quando tudo
se vestiu de inexistência,
eu estava lá,
naquele silêncio revelador,
na orfandade das palavras,
decapitando o verbo da boca,
esvaziando-se em esperas,
evadindo-me das dores,
vadiando-me de amores vãos,
que vão,
pacientemente,
na mudez da língua que não fala,
apenas se cala e se cola no beijo
conservado no formol de uma esperança.
Depois,
ao amadurecer-se a saudade,
colhi as ausências
no vazio que se agigantava,
e ofereci meus sonhos,
minha alma cansada,
meu desejo desbotado
para nos reconstruirmos
à guisa do que
o seu amor conseguiu evitar
e o meu pode se iludir.
E da inexistência,
fez-se a nossa penitência...
E nada mais.