TARDANÇA
Já é tarde!
E de tão tarde,
perdi o adiantado da hora,
não vi o resguardo do tempo,
o retardo de fazer mais
do que uma ida sem volta
de momentos e movimentos.
Cheguei depois da partida,
só pude presenciar a despedida
do que, talvez,
fosse o abandono
dos seus relógios,
ou o desapego
dos meus ócios.
O despertar, agora, é vazio,
corre, erradio,
em busca doutro instante
menos baldio,
nem tão árido,
e nem tão rio.
Já é tarde!
Tão tarde.
Os sonhos pereceram
no próprio atraso,
no seu desvalor,
e da negligência,
do seu descaso
perdeu a viagem,
não mais alcançou
a sua existência,
nem a do sonhador.
Paciência!
Talvez precise de um outro tempo,
ou de um adiantamento
de uma próxima vida,
para que eu tenha
uma nova chance de sonhar.