JOÃO MINEIRO
João, mineiro,
brasileiro,
solteiro,
sem dinheiro.
Busca sua sorte
num golpe certeiro
de uma ferramenta
no meio
do veio,
driblando a morte
sonhando com o norte
e tudo mais
que o movimenta.
Quer ser forte,
roga ao santo casamenteiro,
para encontrar um amor
verdadeiro
já chega de amantes,
só não chegam os diamantes.
Uma desdita,
uma ilusão,
tão distante,
uma pepita
do ouro, um grão
ou um só grama
o seu programa,
de garimpeiro:
sujo de lama
do dia inteiro
com calo em cada mão,
e um talho no coração.
Um sonho sufocado,
afogado num atoleiro,
sombra no desfiladeiro,
sem sorte,
sem norte,
sem sequer paradeiro,
apenas
uma dor profunda,
como profundo é
o seu desatino,
o seu destino,
de ser
de janeiro a janeiro
um João ninguém,
um João mineiro.