POESIA DE VÉSPER

POESIA DE VÉSPER

Estava sentado à mesa,
Naquela tarde brejeira,
No aguardo da minha tristeza,
Esquecer a dor que flameja.

Foi assim, ante um copo gelado,
Que sorvi da poesia de vésper,
Entre prosas postas de lado,
A sonhar com Héstia ou Hebe.

Só assim vou diante à lareira,
Saciar-me junto a Deméter,
E sorver todo néctar que beira,
O amor de Afrodite ao Éter.

Só assim vão os carros de fogo,
Atrelados às asas de Pegasus,
Pois Apolo se mostra pro jogo,
Na certeza de sermos tão cegos.

E agora só me restam as gotas,
Do alambique que vi na Chapada,
Nas alturas que guardam as noites,
Que escondem a coruja coitada.

Com estrelas ou nuvens esparsas,
Só a lua poderá me aceitar,
Se o bar já não tem meus parças,
Então sonho em me embriagar.

Mas não vai ser com a vertigem,
Da maldade dos que me odeiam,
Que não sabem ter mesma origem,
As razões ou luxúrias que anseiam.

Pois eu vivo do ar sem azia,
E reclamo do gosto da ameixa,
Quando o fausto virou fantasia,
E os caroços é a dura queixa.

E ainda sentado à mesa,
Eu sucumbo ao peso do tempo,
No conforto que a natureza,
Me permita ser pólen ao vento.