O UIVO DO GUARÁ

O UIVO DO GUARÁ

Aqui no Brasil não há lobo endêmico,
Então os guarás tomam conta de tudo,
Pois cada onça é um conto totêmico,
Do tempo em que o mundo era mudo.

Mas hoje os guarás não tem patas,
E vestem seus ternos sem couro,
E estão no jantar com gravatas,
Em pleno Congresso de ouro.

Então é preciso um resguardo,
Depois de votar nos que matam,
Pois têm os açougues e o pasto,
E os pobres com fome destratam.

Nem vai ter leito de hospital,
Pois tudo gastaram em churrasco,
E nem nos deixam ler o jornal,
Pois somos apenas seu gado.

É triste, ver de novo a guilhotina,
E pobre é quem perde a cabeça,
Pois o povo é tão tolo que estima,
A quem lhes formula a tristeza.

Pois crêem na voz do diabo,
Num êxtase de cores e gritos,
E esquecem até do passado,
Num culto a Baal e aos mitos.

Então, se guarde em cuidados,
Pois sem nossa mata e sem água,
O nosso caixão está guardado,
Mesmo que ele seja uma vala.

Pois quando não é tiro é doença,
E se não é o fuzil será o vírus,
Por trás de toda indecência,
Que tira até meus suspiros.

Então peço a Deus providência,
Pois Ele é a lei de cada segundo,
E aguardo com Fé na ciência,
Que possa ter paz nesse mundo.

E se for necessário ter fim,
Que seja pros donos de iates,
Ou de quem mata pelo marfim,
Para não se ter mais vaidades.

Vai orgulho afogar no espaço,
E deixar nos unirmos de novo,
Com a régua que mede o passo,
Em que busco por nosso renovo.

Só assim haverá bom guará,
Verdadeiro e que uiva sem ódio,
Mas apenas pra lua saldar,
Na beleza de cada episódio.