Presença
Ao passar pelo portal da vossa cidade
Vi que as árvores se caíam
De um lado e de outro
Querendo tampar
A entrada larga de vosso abrigo coletivo...
Acabara de amanhecer
Mas, ao transpor os tais umbrais
Já a noite caía
E nenhum céu,
Nenhuma estrela quis se por acima de nós...
Havia em vossos bairros
Caminhos tortuosos,
Lagoas e lamas
Esgotos putrefatos
Corpos animais em decomposição...
Muito lixo indicavam vossas casas
E lá dentro uma frouxa luz
Denunciava vossas atividades...
Resolvi segui em linha reta,
Na geodésica que minimizasse o tempo
Convosco...
As portas se fechavam tão só fosse possível
Minha visão,
As portas eram movimentadas celeremente,
Mas antes nossos olhares se fundiam,
Eu via vossos passados,
E agora, mesmo longe,
Na distância e no tempo
Tenho essa causa de sofrimento,
Vossa lembrança,
O raio x de vossa alma,
De voz todos que tentam fechar portas...
Eu passei de modo estático,
O movimento se fez em vosso espaço-tempo
A expulsar quem chegava
Que partia
Que não queria conhecer a composição de vosso lixo,
Vossa alma...
Então, ao chegar no limiar da cidade,
A noite ainda não acabará,
Nem vai acabar
Ainda viverás no escuro
Como se estivesséis em plena chama
E tentarás fechar
Tentarás esconder
Dos dos seres eternos
Vossa confusão...
Eu deixei pelos muros da cidade
Escritos que vos parecerá disformes
Não os entenderão,
Nem sua motivação...
Mas é de pensar,
Se está num idioma que não pode falar,
Outros mundos e seres
Além de cada um de vós
Existem, existirão...