TODA FUGA
Peço permissão à vida
para sonhar a felicidade,
sem sonhos desbotados de distâncias,
nas lonjuras que apartaram
meu corpo da sua alma.
Nos alquebrados dos desejos
que cederam seu verniz
à pátina do tempo.
Rogo-lhe uma redenção,
ou uma forma mais dissimulada de ilusão,
eficiente no ardil de trazer um falso lume
à opacidade dos olhos cansados.
Apenas solicito
alguns goles de embriaguez,
mas com o efeito perene para toda
a remanescente existência.
Que me faça acreditar ingenuamente
em algo habitável
no interstício da fantasia e da realidade
Com um um traje novo,
que agrade o exigente amanhã
e me faça sentar à sua mesa
para alimentar-me com mais
do que as migalhas oferecidas.
Se possível não for
esse apelo,
o pleito
do peito
repleto
pelo
preço
da dor,
então, dá-me alguma poesia,
destas que subvertem o tempo
e se apoderam do infinito
impossível,
enquanto me for
impassível
a fuga no exercício
do escrever.