ESFOLIAÇÃO
Ao derramar-se o cálice do tempo,
sorvedouro de todas as horas,
da existência que se afoga,
procura banhar-se
como se fora o último ritual
escava na pele as camadas
que abrigaram as tatuagens
mais sagradas, sem esquecer
das profanas.
E arranca da derme
o sumo da tez,
à flor da pele
a semente do seu quintal.
E toda essa purificação
devota-lhe à divindade
dos seus desejos mais secretos,
razão dessa jornada.
Então estará pronto
de corpo e alma lavados,
para ser levado
a algum lugar
digno de tudo
que a vida lhe fez sonhar.