O TEMPO E SUAS FANTASIAS
Porque o tempo
se alimenta da sua própria escassez,
ele veste a saudade com a precoce resignação.
Talvez melhor fosse
que emprestasse a si próprio
uma roupa de ilusão,
com botões de espera
e fechos de esperança,
numa dança frenética de possibilidades,
num abrir e fechar
de conquistas inalcançáveis,
de sonhos doloridos por ausências infindas,
mas com um figurino
do tamanho infinito
da teimosia dos poetas:
que se enamoram dos seus versos,
que neles moram
e demoram
a desabotoá-los
na casa
da sua confecção
de trajes e trajetos
nada sérios e formais:
apenas fantasias
e nada mais.