EMBARCANDO COM A LUA
Madrugava.
O vento uivava
na demência da noite.
O véu esvoaçava,
o céu esgarçava:
inclemência do açoite.
Havia na negra partida
uma escuridão vestida
de eternidade
as estrelas choravam
sua orfandade,
luzes se abotoavam.
O homem assistia a tudo
com um sorriso de breu
na boca que não se abriu.
Seu navegar é cúmplice
que num mar cumpre-se
o caminho dessas trevas,
horas que lhe são servas.
Uma noite sem fim,
no firmamento vazio,
desbotada no brilho parco
de uma paisagem nua
na imensidão tão crua
desprovida de toda lua
que o homem seduziu
para dentro do seu barco.