FLORESTA ENTRE MUROS

FLORESTA ENTRE MUROS

Viver em meio aos rochedos,
Como calango ou uma preá,
É viver somente em segredos,
Sem nem mesmo compartilhar.

Diferente seria ter medos,
A andar sob copas frondosas,
Das florestas sem um arremedo,
Varandando a vida com prosas.

Só o humano quer a diferença,
E a distância da mãe natureza,
Inferindo ser Deus como crença,
Na ganância de ter a certeza.

Só não prima a sua inconstância,
Rebuscar tudo sobre a mesa,
E buscar a real importância,
De manter toda chama acesa.

Pois as estrelas sem uma fornalha,
Serão corpos sem vida vagando,
Como um lixo além da muralha,
Ou um vácuo dentro do oceano.

Eu não quero ser índio num burgo,
Pois ali esqueceram a floresta,
Prisioneira morrendo entre muros,
Sem poder dar convites pra festa.

Mas os dias de índio nos campos,
São de muito deleite e de cheiros,
Pelos rios, cascatas e encantos,
Onde chove meu canto primeiro.

É assim que percebo as cidades,
Tão distantes mesmo sendo ilhas,
Nos propondo ter só vaidades,
Pelo mundo entre Tordesilhas.

E assim venho ao cerne da vida,
Que só tem um futuro adjunto,
No equilíbrio que tanto convida,
Para ser índio em tudo que junto.