A PANDEMIA DE UM COVEIRO

A PANDEMIA DE UM COVEIRO

(nunca trabalharam tanto, porque alguns trabalharam tão pouco)

De tanto sepultar sonhos,

abandonados na matéria fria,

e avizinhar-se da dor alheia,

aquele homem ficou alheio

da sua própria pandemia.

Se acostumara com a morte,

seu dever de ofício:

cavar um buraco, um orifício.

Suas lágrimas

há muito secaram

na sepultura dos seus olhos.

Respirava a morte,

vivia a morte,

vivia da morte!

Seu sustento, ganha-pão.

Onde muitos

ganharam a terra,

e outros perderam o chão.

Abriu tantas covas

enterrou tanta gente

que em cada túmulo

ficou um pouco do coração.

O homem,

sem perceber,

morria, insepulto,

a cada dia

da macabra monotonia,

amiúde,

ao lado

do ataúde.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 01/04/2021
Código do texto: T7221612
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