A MULHER, O TEMPO E O MAR (Espera Infinda)

Quando o dia

se definhava em tardias horas,

a moça via o mar

com olhos pendulares de lembrança,

balançando na brisa

que o vento, sonolento,

lhe afagaria,

mas que a noite em breve,

lhe afogaria

em mais uma espera baldia.

Teu olhar perdido era o espelho da esperança,

no regresso que as areias dos seus pés,

aprisionadas na redoma da ampulheta,

em sussurros eólicos

lhe sopravam,

no movimento da maré,

no desalento do amor

que as ondas

lhe tragaram.

No cálido horizonte vespertino

ela via em suas linhas,

o tempo a costurar

em agulhas de ilusão

uma ferida

que o coração se recusava

a cicatrizar.

E os dias se passavam

colecionando lágrimas de sol e lua,

se embriagando com a chuva

na tentativa vã de lavar aquela desilusão sem tom

e levar a dor

consigo para os braços de Iemanjá ou de Poisedon.

Apenas o oceano lhe entendia.

E ao lhe oferecer

as águas para sonhar,

em seu leito líquido,

ela ia

sonhando,

se molhando,

se inundando do mar ...

naufragando nesse amar

em ondas e ponteiros de cada

novo entardecer.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 28/03/2021
Código do texto: T7218111
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