A MULHER, O TEMPO E O MAR (Espera Infinda)
Quando o dia
se definhava em tardias horas,
a moça via o mar
com olhos pendulares de lembrança,
balançando na brisa
que o vento, sonolento,
lhe afagaria,
mas que a noite em breve,
lhe afogaria
em mais uma espera baldia.
Teu olhar perdido era o espelho da esperança,
no regresso que as areias dos seus pés,
aprisionadas na redoma da ampulheta,
em sussurros eólicos
lhe sopravam,
no movimento da maré,
no desalento do amor
que as ondas
lhe tragaram.
No cálido horizonte vespertino
ela via em suas linhas,
o tempo a costurar
em agulhas de ilusão
uma ferida
que o coração se recusava
a cicatrizar.
E os dias se passavam
colecionando lágrimas de sol e lua,
se embriagando com a chuva
na tentativa vã de lavar aquela desilusão sem tom
e levar a dor
consigo para os braços de Iemanjá ou de Poisedon.
Apenas o oceano lhe entendia.
E ao lhe oferecer
as águas para sonhar,
em seu leito líquido,
ela ia
sonhando,
se molhando,
se inundando do mar ...
naufragando nesse amar
em ondas e ponteiros de cada
novo entardecer.