CARTA AO TEMPO

Quando tiveres que passar,

leva-me os dias, mas deixa-me a esperança no amanhã.

Leva os momentos difíceis,

mas permita que eu fique com o aprendizado.

Não faz mal que tu leves os bons também:

a gratidão já é o verniz indelével da lembrança.

Leva o sentimento de desesperança,

mas conserva comigo o sentido da espera.

Leva os ponteiros,

as areias aprisionadas pelas vidraças das ampulhetas,

as folhas desbotadas do outono

e dos outros calendários.

Leva, enfim, o que de ti aprendemos a mensurar.

Mas deixa tua essência em todo átimo de sorriso com a duração do infinito,

em cada lágrima derramada na tua ausência, pois ela é o rio por onde deságua o curso da saudade,

em cada olhar perdido dentro de ti,

aguardando o regresso de quem em ti partiu.

Deixa-me algo, em versos, nos retalhos com o qual eu teço o figurino da vida,

com agulhas que ferem,

mas com linhas que suturam.

E quando for o dia de olhar pelo teu retrovisor eu possa dizer:

do teu útero eu vim,

para tua boca retornarei,

feliz, pois apesar dos teus contrários,

em ti encontrei a sabedoria de viver

e a libertação para morrer.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 22/03/2021
Reeditado em 22/03/2021
Código do texto: T7213514
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