Caminhos sem fim
Eu queria uma lápide
Um lugar que me dissesse
Que me acalentasse
Com a razão
Eu queria uma face
Que nela eu tivesse
Que ela me mostrasse
O porque da solidão
Eu queria me sentar
Como outrem me sentei
E com o coração apertado
Ficar ali e esperar
Sentada, como em criança,
Quase imóvel, coração na mão,
E alimentar a esperança
De ter luz pra minha escuridão
Como outrora,
Sentaria na calçada,
Do pátio de minha prisão
E mesmo acordada
Esperaria a luz pra minha visão
Uma resposta
Uma razão
Um motivo verdadeiro
Pra acalmar meu desespero
Um porque que aliviasse
Essa dor de nunca ser
E se a resposta morasse
Numa pedra em uma lápide
Aceitaria meu viver
Mas não há pedra
Nunca a figura se mostrou
Tudo que escavei
Me enterrou sem viver
E pelos caminhos
Fui sendo passageira
Pelas vidas que encontrei
Uma eterna forasteira
A garota estrangeira
Sem laços com ninguém
E nesse eterno sempre ir
Nesse eterno partir
Nunca um ninho
Pude sentir
Eternamente na espera
De um pouquinho possuir
A existência em alguma vida
E de verdade poder sorrir
Tirar o peso desse caminho
E toda poeira sacudir
Sentir minha alma leve
Mesmo que já me seja a hora de partir
Só por um instante
Ter satisfeito o desejo
De me sentir importante
Mesmo que no beijo a se despedir