E fez-se a rotina de todos os dias...
Está chovendo. Eu ouço o som da chuva caindo dentro das poças d’aguas lá no corredor: ploc, ploc, ploc... Foi gostoso dormir mais uma vez com essa canção de ninar dos céus embalando meu sono. Mas, como só morto dorme eternamente, cá estou eu novamente, acordado, sendo fitado pela cabeça do Bob Dylan presa dentro do quadro pendurado na parede a minha frente: mais um dia dentre todos os outros já passados e os que estão por vir. “E soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”.
Sendo assim, que assim seja: e fez-se a manteiga para passar no pão, assar na frigideira e comer com chá. E fez-se o notebook para se escrever bobagens e postar no status. E fizeram-se os livros para ler, as paredes sem reboco para serem rebocadas, e as músicas para serem ouvidas, e as cápsulas de vitamina B12 para serem tomadas, e o idioma inglês para ser estudado, e os dois gatos para serem alimentados com ração, e os filmes para serem assistidos, e as omeletes para serem preparadas, e a dissonância cognitiva para que o que não foi feito hoje seja deixado para o amanhã sem culpa... E o sétimo dia para que se descanse de tudo isso!