ENQUANTO O SOL NÃO VEM
A quem me permito ser
nas horas dúbias,
no intervalo forçado
entre a cama vazia
e a baldia madrugada?
Entre valas
cavadas
no leito de lágrimas
corre um rio no vale
de lírios,
delírios,
no perfume
que exala
em cada curso de solidão.
A quem me permito ser
no frontispício do sonhar:
sou o proprietário do amanhã
ou me demito
deste ofício de escrever
e me deixo prescrever
no exercício de mais um adormecer?
A quem me permito ser?
Sou eu,
não sou mais ninguém
além da insônia
e do tardio amanhecer.