SÁBIAS IGNORÂNCIAS
Já procurei respostas
nos fumos da noite,
agasalhado com o manto
de tantas madrugadas insones.
Pensei encontrá-las na bruma densa
que algemava meus passos,
aprisionava minha alma
no calabouço
da desesperança.
Eu não via nada mais
do que o fio da cegueira
que tecia devagar
cada ponto de ilusão.
Ela estava lá
com a boca escancarada,
famélica,
a devorar-me em dúvidas,
a aliciar meus medos.
Então eu percebi,
num rasgo de vazio
um não-dizer,
refratário,
com o incorrigivel desejo de resgate.
E foi aí, do nada absoluto,
que soçobraram as interrogações
e no naufrágio de tudo aquilo
que um dia quis saber,
eu emergi com a sensação
de que tudo sempre foi
respondido,
mas sabiamente não revelado,
apenas cultuado na liturgia
de viver
a terapêutica ignorância
de cada dia.