SONHOS DE POETA
Com quem sonhas,
ó poeta,
nesta noite fria,
na lânguida lágrima do luar?
Viajas na tua pena
na peça que tu encenas:
um sopro da tua poesia,
sem ainda te perceber num nome,
apenas um momento, insone,
que tens para te dar.
Do lírico ventre
te acalentas toda fome
que alimentas teu versejar
O infinito que lhe consome
és hoje, e sempre
maior motivo desse teu procurar.
E se não a encontrares nas escrituras,
é porque tantos nomes
haverá por certo de chamar,
e se não sabes ainda reconhecer
entre tantas belas esculturas,
deitas no desconhecido
no leito do teu universo
tão bem preenchido
com cada espuma do teu verso
que suaviza o adormecer,
com a fantasia que inventas
nas madrugadas só tuas
nos sonhos só dela
na luminosa aquarela
de estrelas sonolentas
sem vontade de despertar.