O MENINO NA PORTEIRA

O menino ao longe

observava com olhinhos de encantamento

aqueles homens tangendo o gado.

Pés e patas iam se movimentando

num ritmo sincronizado,

sinfonia disciplinada

de mugidos

sob a batuta de um berrante.

Sonhava algum dia

atravessar a porteira e,

montado num cavalo,

conduzir essa orquestra

pelo pasto que parecia

não ter fim.

Também ouvia o som

acólito,

canino

organizando aquela procissão.

O menino sonhava

e a boiada passava

até que ele não a enxergasse mais,

a não ser com as retinas da imaginação.

Esperava, ansioso, o retorno dos maestros

para ouvir estórias de suas cavalgadas

e aumentar seu estoque de sonhar.

Mas ainda tardaria um pouco

para o sonho infantil vestir-se

de adulta realidade.

A vida, por certo, lhe reservaria

outras viagens,

haveria de tanger outros sonhos

em caminhos

que também se perderiam no seu

ingênuo olhar.

Novos brados e berros

estaria por ouvir ou dar,

portas, outras, atravessaria

para depois entender

que o mundo é sem porteiras.

Mas a despeito de qualquer

vicissitude,

na inocência daquele pequeno-sonhador,

procurava todos os dias

em todas as estórias

ouvidas,

nunca se esquecer

que antes de qualquer coisa

era imperioso tanger a esperança

e nunca a perder de vista

nos pastos da sua alma.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 17/02/2021
Reeditado em 17/02/2021
Código do texto: T7186849
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