AMNÉSIA
A vida morreu.
Não apenas o corpo silente,
a matéria decomposta,
o evento que não mais acontecerá.
Há mortes mais dolorosas,
ausências que se eternizam
por todas as gerações.
Não se fala mais nela,
não a se cultua mais.
Aniquilou-se o legado:
retratos queimados,
rostos esquecidos,
cartas extraviadas.
Não a temos mais dentro de nós.
Apenas plantamos o nada
com sementes órfãs do ontem,
no espaço de peitos vazios
e mentes desbotadas.
A vida morreu
quando a memória daqueles
que a fizeram um lugar melhor,
deitou-se na sepultura fria
do esquecimento
e dormiu sem que nós
nunca mais nos preocupássemos
em acordá-la.