FÁTUO
De soslaio te vejo,
sombra a esgueira-se
na turbidez do periférico olhar.
Eu quase te encontrei,
sonâmbulo,
tateando-me em escuridões
nos corredores do mal-dormir.
Quisera acordar,
- será!? -
para perceber a silhueta
que se desmanchava em ausências,
como pó a escorrer pelas mãos
calejadas de tantas fugas.
Ou devesse entregar-me ao desfalecer.
Talvez o sono me revelasse
em proclamas oníricos,
as aparições que meus olhos
não testemunharam
nas vigilantes noites de angústia.
A dúvida me sequestrava a lucidez
e negociava resgates em tíbias esperanças.
Onde estarás?
Envolta no véu de uma partida
no vão da despedida, sem volta,
som inerte, sem emissão,
sem propósito, sem missão,
na prosaica de uma prosódia,
na falta de teu canto original,
vou te cantando em paródia.
Desejando algo que valha
mais do que uma ilusão,
nas insônias impostas
pelo esperar sem fim.