DESTERRO
Quando me fui,
levei comigo até a poeira
dos meus passos.
Nem sequer olhei para trás.
Reduzi a estrada
à medida do último calvário.
E exilei-me de qualquer
recordação.
Bebi no naufrágio
das esperanças,
as remanescentes gotas do cálice
que um dia lhe servi,
mas que ora regurgito,
só para não esquecer o sabor
amargo de uma despedida.
Do silêncio
fiz meu companheiro de travessia,
da compaixão, minha inimiga mortal.
O tempo sepultou
as últimas folhas
das páginas vazias que escrevemos,
das árvores estéreis que nos recostamos.
Sua sepultura
não haverá de requerer tardias exumações.
Talvez me peça uma rosa negra,
um réquiem para o passado infausto,
ainda de óbito frágil.
Em sua lápide,
na nudez do mármore frio,
eu escreverei seu nome
com todas as letras do seu abandono,
do meu degredo
e dos temores de novas ilusões
que ainda estarão por vir,
acumpliciadas com infames
arrependimentos.