EU CONTO MEUS DIAS

EU CONTO MEUS DIAS

Busquei me encontrar no oculto,
Que escorre em seivas de nácar,
Pelas conchas de um molusco,
Escondidas no fundo do mar.

Porque planejei meus passos,
Enquanto esgueirei pela calma,
Pensando em ver meus riachos,
Servindo de leitos pra alma.

Por isso eu conto meus dias,
Enquanto estiver sob as águas,
Deixando de lado as enguias,
Com medo da dor que me afaga.

Já não respiro por brânquias,
Desde que me vi na planície,
Acima do mar e reentrâncias,
Que falam o que nunca se disse.

E não sou mais peixe ou sáurio,
Mas alguém além de um prelúdio,
Num canto de Orfeu encenado,
Em tons de concórdia ou repúdio.

Somente não sei meu agora,
Ante um néscio deificado,
Quando a virtude me implora:
- Fuja daquele aloprado!

Então me afasto da fera ferida,
Ou de quem rouba até nossa fome,
Pois gozar de quem perde a vida,
Deve ser traje de um lobisomem.

Mas não ofendo os soturnos,
Que afloram o instinto animal,
Diferente de homens miúdos,
Que só gozam agindo tão mal.

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