PALAVRAS

Ah, essas misteriosas

palavras

algumas

heroicas

outras

sem nenhum pudor

ou vergonha

na cara

Palavras

irresponsáveis

caóticas

patéticas

transcendentes

delicadas

apaziguadoras

Reverberando em bocas

sem dentes

com dentadura

às vezes sábias

às vezes mudas

às vezes nada

apenas fonte de impostura

Ah, essas impiedosas

palavras

a dizer de nós

a nos expor

tentando falar de amor

de mágoas

de saudade

de esperança

de coisas

dentro do peito

que nem se sabe

mas que nos lambem

as feridas

feito os cães de Omulu

Creio nas palavras

eu seu poder

de fazer revoluções

de pacificar as almas

de sarar os corações

de xingar

de perdoar

de dizer: calma

vai à luta

de clamar por justiça

de fazer –ou não – justiça

de pedir pão com linguiça

na barraca da feira

e reclamar do troco

de se fazer um poema louco

de, virada em prece,

elevar-se em busca de Deus.

- por José Luiz de Sousa Santos -