MULHER MEDUSA
Negas aquilo que mais quereres
O querer inegável que não dominas
Inconsciente a encontrares.
Sonha com aquilo que lhe escapa
O inapreensível sensível
Deslumbra o impalpável.
Confessa o que resigna entregar
O elogio da delicia a excita
Catexia, fremindo o diáfano.
Não olha, pois seu olhar petrifica
Abre mão das suas defesas
Pra não sentir as causas e os efeitos.
Captura o inverso, em seus entraves
Grita no íntimo o infinitivo
Quando dá aquilo que não queres receber.
Medusa, o passado que é feito de pedra
Olhar que desmantela e não olha para outra alma
Porque os olhos veem apenas sombras e simulacros.
Olhar ardente, petrifica pelos olhos imanentes
O seu olhar é memória de aspirações nascentes
Aberto ao infinito resplandescente de falas.
Não privatizas o olhar como construção de poder
Produtora de venenos lentos e agudos
Para um cego que conhece sua cegueira intensa.
De Fernando Henrique Santos Sanches - Fernando Febá