CEGO DA ORIGEM

CEGO DA ORIGEM

Cego até os dezessete anos,
Deparei com a nua verdade,
Oculta por debaixo dos panos,
Onde eu negava a realidade.

Foi andando por esse caminho,
Adentrando numa faculdade,
Como um fruto nascido sozinho,
Que senti toda dor da maldade.

Lá estava meu ser excluído,
De uma festa que não convida,
Muito embora lhe queiram incluído,
Pra servir a uma elite perdida.

Percebi que o tempo não cura,
A ferida que ainda persiste,
Pela pele tão preta ou escura,
Que me dá um sofrer que insiste.

Só assim percebi minha origem,
Tão marcada por sóis e por África,
Que me fez viver numa vertigem,
Sendo só lá no meio da praça.

Mas, quem sabe, verei novas vias,
Na igualdade que tanto preciso,
Onde as luzes aqueçam os dias,
Ou apenas dê cor a Narciso.

Só assim não serei melanina,
Mas caráter e humanidade,
Serei tudo que junto combina,
Em louvor à mais pura verdade.

Que é saber sermos de areia,
Que o vento sacode e suspira,
Modelando as dunas e veias,
Que elevam meu fogo na pira.