CADA VEZ, CERTA VEZ

CADA VEZ, CERTA VEZ

Cada vez que escrevo,
Cubro a retina de tinta,
E exponho a vida no trevo,
Enquanto o verbo me excita.

Cada vez que sou segredo,
Minha intimidade recrimina,
Então escondo meu medo,
E o ego se enche de estima.

Certa vez eu dormi cedo,
Na insônia que é rotina,
E deitei com o passaredo,
Se escondendo na ravina.

Com certeza, nesse enredo,
Eu nem tinha uma lamparina,
Onde a sombra do arvoredo,
Guardava a noite que ensina.

Certa vez, no entanto, fui laço,
Do embrulho guardado na caixa,
Segredado por não ter espaço,
Pra ser livre, de tanto ser caça.

Certa vez quis virar borboleta,
Ou ser grilo dentro do casulo,
Pra pousar numa flor violeta,
Eclodindo as asas num pulo.

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