QUESTÃO DE (O) TEMPO

No invólucro da ampulheta,

uns tardam em despachar a areia,

outros a precipitam por demais.

No ínterim da espera

são todos passageiros,

prisioneiros atrás da parede de vidro,

reféns da espessura de cada ansiedade,

querendo usurpar primazias

ou serem depostos por elas.

Se esvaem

colecionando dúvidas

em cada grão que se vai,

questionando dogmas,

corrompendo o destino,

ou seduzindo a gravidade

da areia que cai.

E quando exageram

na pátina do tempo,

perdem a percepção

do papel daquela que os liberta

e os renova numa outra ampulheta

do amanhã.

Todos passageiros,

mensageiros,

de passagem,

de postagem

do tempo que os invade e que se evade.

Carcereiros de si,

querendo na insanidade

quebrar a moldura vítrea

para depois, na mesma loucura,

remendá-la

com o sumo dos arrependimentos.

Mal sabem que em seus poros

a ampulheta já há muito

se consome

na areia movediça

do tempo que se desperdiçou.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 16/12/2020
Código do texto: T7137285
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