SIGO TENTANDO ...
Ah!, esses colecionadores de lirismos.
Sem motivo ter,
passam a falar coisas da alma,
e a descrever fantasias revestidas
de um amanhã sedento por sonhar.
E nos tocam de um jeito,
indescritível,
na intangível forma do expressar.
Revolvem a vida
dum modo mágico,
e a devolvem
pelo coração
de quem as lê:
por um pranto cômico,
ou pelo sorriso trágico,
na forma abstrata
do escrever.
Quando choram
suas lágrimas escoam pela face
do seu sofrer,
e se sorriem,
irradiam um brilho onírico
que reluz no território
fecundado no útero lírico.
Talvez um dia
me convença em acumular
despropósitos,
desvarios,
e passe a tentar ver também
certas invisibilidades.
Se por merecimento,
ou até mesmo
pelo suor de alguma teimosia,
conseguir absorver
e me sufocar
por algum oxigênio de sonho
que o valha,
e com ele tocar a superfície
mais sensível de quem
comigo queira respirar,
talvez possa, enfim,
despertar o poeta
que adormece, asfixiado,
dentro de mim.