O HOMEM E O MAR
O HOMEM E O MAR
O ancião contempla o oceano
do alto
do penhasco,
no desfiladeiro
dos envelhecidos anos,
sobre a enseada que parece
ter algo a lhe dizer.
O homem mira o horizonte,
seu berço,
que um um dia
o acalentara em sonhos joviais,
na linha do tempo,
se imiscuindo com a da sua vida,
a procura de um descanso
no entardecer.
As águas hoje estão plácidas,
já se rebelaram em pretéritas tempestades,
tantos naufrágios
beberam o sangue das suas veias,
que ele, agora,
só espera o resgate
num avizinhado amanhã.
O mar abre seus braços
e oferece seu leito
na embocadura
que quer lhe engolir.
Mal sabe
este continente líquido
que o senhor, alquebrado
pelas navegações da vida,
anseia por este momento
com tamanho ardor,
que no final homem e mar
serão substância única
e se devorarão mutuamente:
desejo e destino,
num novo oceano
em algum lugar além
das procelas,
e das mazelas
que cada um guardou.
©️ Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
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