O HOMEM E O MAR

O HOMEM E O MAR

O ancião contempla o oceano

do alto

do penhasco,

no desfiladeiro

dos envelhecidos anos,

sobre a enseada que parece

ter algo a lhe dizer.

O homem mira o horizonte,

seu berço,

que um um dia

o acalentara em sonhos joviais,

na linha do tempo,

se imiscuindo com a da sua vida,

a procura de um descanso

no entardecer.

As águas hoje estão plácidas,

já se rebelaram em pretéritas tempestades,

tantos naufrágios

beberam o sangue das suas veias,

que ele, agora,

só espera o resgate

num avizinhado amanhã.

O mar abre seus braços

e oferece seu leito

na embocadura

que quer lhe engolir.

Mal sabe

este continente líquido

que o senhor, alquebrado

pelas navegações da vida,

anseia por este momento

com tamanho ardor,

que no final homem e mar

serão substância única

e se devorarão mutuamente:

desejo e destino,

num novo oceano

em algum lugar além

das procelas,

e das mazelas

que cada um guardou.

©️ Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

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Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 27/11/2020
Código do texto: T7121483
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