RESTAURAÇÃO
Ainda procuro o grito
amordaçado na minha garganta
com as cordas da tua partida.
Esperei
no parapeito do tempo
o eco das tuas palavras, mas
se petrificaram
na mudez da tua voz
e se precipitaram
em dolorosos silêncios.
Recusei-me a depositar o meu amor
na sepultura que o seu abandono cavou
Na lápide inconclusa escorrem
tintas de mórbidas esperanças,
tíbias gotas que
caem sobre as últimas flores
que você recusou.
Eu que, amiúde, não empreendo
sacras devoções,
passei a doutrinar-me
no culto da tua ressureição,
aguardando milagres
improváveis,
para um coração dado
a ateísmos afetivos.
Mas,
em se tratando da governança divina,
deixo-me seduzir pela crença
de que tua partida
cumpre o didático
ritual de restauro da minha fé.