DAS TERAPÊUTICAS CHUVAS DE FIM DE TARDE

Curiosa a sabedoria do tempo

que envia seus mensageiros,

vestidos de nuvens

para nos ofertar providenciais chuvas

nas fronteiras vespertinas.

Os corpos se encarceram

atrás das envidraçadas janelas,

outros se abrigam

sob o concreto de alguma marquise,

há ainda os que se valem dos oráculos

de outras coberturas.

A alma,

sempre a reboque das azáfamas corpóreas,

agradece a temporária pausa

e entre uma respiração e outra,

avisa, no seu silêncio ofegante,

ao seu receptáculo

que cada gota que cai contém

o ensinamento da quietude,

da reflexão,

da temporalidade

daquilo que chamamos de urgência.

As precipitações pluviais

são, sim, divisoras de águas

do vento e do tempo

climatológico ...

cronológico, também!

Momento de se quedar,

instante de se quietar,

de lavar as inquietações

e deixar que a enxurrada

leve o chorume das outras depurações.

Por isso,

sempre que a minha alma padece

de áridos desconfortos,

dou-me a realizar rituais xamânicos,

em conluio com as forças dos cumulus

à espera dos sinais eólicos,

anunciando em proclamas molhados

mais uma sessão de terapia chuvosa.

©️ Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

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Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 06/11/2020
Código do texto: T7105438
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