DAS TERAPÊUTICAS CHUVAS DE FIM DE TARDE
Curiosa a sabedoria do tempo
que envia seus mensageiros,
vestidos de nuvens
para nos ofertar providenciais chuvas
nas fronteiras vespertinas.
Os corpos se encarceram
atrás das envidraçadas janelas,
outros se abrigam
sob o concreto de alguma marquise,
há ainda os que se valem dos oráculos
de outras coberturas.
A alma,
sempre a reboque das azáfamas corpóreas,
agradece a temporária pausa
e entre uma respiração e outra,
avisa, no seu silêncio ofegante,
ao seu receptáculo
que cada gota que cai contém
o ensinamento da quietude,
da reflexão,
da temporalidade
daquilo que chamamos de urgência.
As precipitações pluviais
são, sim, divisoras de águas
do vento e do tempo
climatológico ...
cronológico, também!
Momento de se quedar,
instante de se quietar,
de lavar as inquietações
e deixar que a enxurrada
leve o chorume das outras depurações.
Por isso,
sempre que a minha alma padece
de áridos desconfortos,
dou-me a realizar rituais xamânicos,
em conluio com as forças dos cumulus
à espera dos sinais eólicos,
anunciando em proclamas molhados
mais uma sessão de terapia chuvosa.
©️ Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
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