A arca

A arca

Eu não quis mais avistar

os lixões com seus pássaros famintos

os silêncios tristes nos olhos dos meninos

eu já não suportava alimentar

de restos de restos e putrefatos grãos

os animais que me estendiam as mãos

quanto me doía ouvir os lobos

uivando suas fomes em sertões tão pobres

e no alto da montanha a fartura dos nobres

então das lágrimas famintas eu enchi o mundo

e toda a lonjura da terra logo se tornou em mar

e todos então correram para a arca alcançar

mas somente os pássaros meninos

mas somente os lobos de tristes destinos

e aqueles bichos jogados aos desatinos

estavam salvos ao amanhecer!

Rangel Alves da Costa

blograngel-sertao.blogspot.com