AGRURAS DO TEMPO
Talvez não tivesse chegado a hora
ou tenham se evaporado
todos os líquidos ponteiros,
sem que apercebesse.
Uma espera inútil:
desperdícios das rotações,
fuga das areias
pelas frestas das vidraças
das ampulhetas,
despencar das folhas
na outonal árvore do tempo.
O rebotalho
referendou-se na inutilidade
da própria existência.
E como poderia supor
ter sua posse,
se nem ao menos
soube onde procurá-lo?
De tantas sevícias, suponho,
o presente exilou-se no passado,
e tentou arrastar o futuro
para o asilo da desesperança.
E o que restou, afinal,
do embate da vida
com as oportunidades perdidas?
Apenas o seu espelho quebrado,
o arrependimento tardio
estampado em sua face despedaçada.
Os retalhos de vidro,
que hoje agonizam,
um dia foram reflexos
de esperança,
vítreos vaticínios de realizações
que se exibiam para o meu olhar,
e que me neguei a lhe ofertar,
ou o que é pior:
que me recusei a ser
o objeto da sua reflexão.
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
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