SOBROU A TORTURA

SOBROU A TORTURA

Certa vez fui andando,
Entre as serras e vales,
Ou seria eu voando,
Como plumas de aves.

Foram tempos de seca,
E faltava de tudo,
Onde a fruta já peca,
Me deixava tão mudo.

E por isso eu buscava,
Novos dias e um porto,
E pra lá flutuava,
No meu bote tão louco.

Levando uma lista,
Do que eu precisava,
Pois eu era alquimista,
Do que tanto almejava.

Mas sabia que os dias,
Tinham mais desafios,
Vendo as letras da lista,
Se esvaindo nos rios.

E o que apenas sobrou,
Fez de nós só escravos,
De quem nos maltratou,
Numa cruz com os cravos.

Então abro o alforge,
Com a lista à frente,
E escrevo a São Jorge,
Pela paz para a gente.

Mas os cães ainda latem,
Onde o lobo perdura,
Enquanto espero que cessem,
O filme que nos tortura.