REGRESSANDO
Muito aguardada você veio afinal...
Ao chegar sorriu para mim
Uma voragem de amor puro.
Entretanto, o poeta, sério e impassível
Congelou-lhe nos lábios o sorriso.
Entenderá que o poeta prefere manter
Impossível o seu sonho, a vê-lo um dia
Tornar-se uma realidade fugidia...?
Que ele deseja seguir o eterno fatalismo,
Lançar-se ao escuro para meditar no abismo?
Grande dor libertou-lhe os soluços,
Afogou-lhe no peito a flama da esperança...
Há mais distância agora em sua voz que cala.
Sinto- me enregelar... Oh Deus, que terei eu
Que não liberto essa voz, impulsos e brados?
Errei ao haver lançado dúvidas e sombras
Para a história de luz desse sonho querido!
Senti no mesmo instante um rígido estalido
E o clangôr dos bronzes da saudade
Esparzindo tristeza em tudo conquistado.
Minha mudez fala-te em tom plangente, angelical
Que esse amor não morrerá, esse amor é imortal...
Juntos, vimos então, germinar o fulgor de nossos destinos.
Tudo se fez céu, tudo foi risos e desatinos.
Na linguagem da luz que se despejou em hinos.
O passado meu, e os desgostos atrozes,
Nada mais são agora, que balbuciantes vozes.
Porém, não se esqueça que ainda existe
A palma de uma vida infeliz e funesta
Que em existência alguma teve festa.
Perceba você, a negra morte lesta
Do homem que traz na mente um turbilhão,
Sem calma, de sonhos em prisão!
Que tem infinda angústia na alma abjeta
E move a vida com a força da recordação...
Que, viveu num mar de alegria, e viu fugir
À sua frente a luminosa estrada da vida feliz.
Que percorrer, por amor, tanto quiz.
Saiba que este viver é morrer dia a dia,
E que a alegria é quimera dourada!
Saiba ainda, que o homem feliz, morreu quando nascia!
Sabemos quem somos, sei que estás comigo,
Vislumbro numa noturna messe, os sonhos que matei
Saindo todos do jazigo...
Espero nunca tornar à madrugada fria.
São palavras de dentro do coração não dizente,
É o puro meditar do poeta que te adora!
Tácito