ÁRVORE
Não sou árvore de jardim
Orgãos vege-vitais à mostra,
a crosta
aorta
Paramenta a sebe com
seus ossos-folha
E juntas velam a terra.
Sou árvore do pântano
Parte de um cenário nevoento
Tempestades agitam-me
a coma verde-negra,
e o tronco já não tão rijo
Muitas vezes verga
pelas nortadas.
Essa árvore sou eu!
Os poucos frutos que dei
Não nasceram da seiva
poucos surgiram, e não colhidos
Caíram apodrecidos.
Envelheci em meio a tormentas
Nunca servi de lar ou repouso.
Longo tempo há de passar
até que se complete o ciclo
senão,
não se completa a vida
e não se diviniza a morte.
Então serei quem quero ser!
Encontrarei todas minhas sementes.
Raízes aladas
nutrirão o pensamento.
E nem tocarão a terra árdua
do instante.
Serei móvel
e voador.
Voarei, e beberei
das águas das estrelas.
Quem vier depois nada saberá
Quem vier antes irá ignorar
Quem ouvir nada contará.
O gemido do mundo ruindo,
das árvores apodrecendo,
da vida acabando...
Dou-te um pouco dos meus anos
como antídoto,
único recurso que disponho
à mercê do tempo que desmorona.
(Dialogando com a natureza e reconhecendo o Tu Eterno)
T@CITO/XANADU