ÁRVORE

Não sou árvore de jardim

Orgãos vege-vitais à mostra,

a crosta

aorta

Paramenta a sebe com

seus ossos-folha

E juntas velam a terra.

Sou árvore do pântano

Parte de um cenário nevoento

Tempestades agitam-me

a coma verde-negra,

e o tronco já não tão rijo

Muitas vezes verga

pelas nortadas.

Essa árvore sou eu!

Os poucos frutos que dei

Não nasceram da seiva

poucos surgiram, e não colhidos

Caíram apodrecidos.

Envelheci em meio a tormentas

Nunca servi de lar ou repouso.

Longo tempo há de passar

até que se complete o ciclo

senão,

não se completa a vida

e não se diviniza a morte.

Então serei quem quero ser!

Encontrarei todas minhas sementes.

Raízes aladas

nutrirão o pensamento.

E nem tocarão a terra árdua

do instante.

Serei móvel

e voador.

Voarei, e beberei

das águas das estrelas.

Quem vier depois nada saberá

Quem vier antes irá ignorar

Quem ouvir nada contará.

O gemido do mundo ruindo,

das árvores apodrecendo,

da vida acabando...

Dou-te um pouco dos meus anos

como antídoto,

único recurso que disponho

à mercê do tempo que desmorona.

(Dialogando com a natureza e reconhecendo o Tu Eterno)

T@CITO/XANADU

Paulo Tácito
Enviado por Paulo Tácito em 07/06/2020
Reeditado em 07/06/2020
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