Tantas de Mim

Os meus fragmentos que por vezes se refazem, navegam pelas esferas onde há vitórias e perdas, onde há glória e dor. Escalam montes e descem vales, partes das que fui e as vezes ainda sou, descerram véus, descortinam o tempo vislumbram eflúvios de vida, que amiúde, observo no sussurro do vento, no desabrochar de uma flor, no arrulhar das cachoeiras, no canto lírico do mundo, na folha de outono que se desprende do galho, enquanto eu poetisa observo o seu desenhar no vão do tempo rumo ao seu destino. Folha seca caindo ziguezagueando se fazendo poesia em mim, sinto o seu cair ao chão e o meu olhar reflexivo a acompanhar-lhe em seu resvalar pelas ruas ao eterno sopro do vento. Nesse momento sob às emoções do meu sentir, me encontro poesia dentro da poetisa que nessas horas sou. Sigo silente e saudosa de tantas outras de mim. permeio por entre meus eus, uns em cicatrizes, outros refeitos, pois a vida me ensinou a reconstruí-los. Foram tantos estilhaços de sentimentos, retalhos de mim reconstruidos em meu ser, mas tudo o que me importa é que ainda amo com a mesma pureza e que minha essência continua intacta, não fora atingida pelos golpes da vida e sua torrencial fonte de perdão, compreensão, amor e carinho, continuam a jorrar em mim. Quando tudo em meu ser desabou, virando escombros, sob os golpes contundentes da vida, tive sensações lutuosas, ânsias insípidas, por horas a fio, em mantos de agonia, sem a proteção necessária sem abrigo, em noites sem tetos despidas de lençóis, descendo à um chão frio, de realidade dura e cruel, onde os sonhos se afogam em soluços tristes, porém uma força etérea levantou-me do abissal ananto em que em prantos desci e aqui estou atuando por trás das cortinas onde o palco é meu quarto e minha cama é meu divã. Vivo enclausurada em corpo, mas a poesia me dá asas para que eu possa voar e assim me transpor para lugares longínquos, telúricos ou etérios onde em corpo eu jamais poderia ir. Disto-me do que é palpável, sou alheia ao mundo real. E onde houver paz, amor e compreensão, minha alma se permite ali pousar. E em plenitude, transborda o meu interior. O que sinto em minha essência, quando por vezes me encontro, é mel, é flor é torrentes de águas da vida e também dor. Sou frágil, ingênua e ainda me encanto com as pequenas coisas da vida, aquelas que as vezes passam despercebidas para muitos, mas que se fazem poesia diante do meu olhar de eterna contemplação.

Kainha Brito

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