E o sol segue seu lento percurso
De repente, o barulho. O barulho que rompe com o silêncio de mais uma manhã de domingo. Domingo que quando ensolarado, começa alegre, passa a fatigante e finda melancólico.
Primeiro, irrompe o barulho da Caixinha-de-Som do Menino da Cara Feia. Sempre ele, e aquelas suas músicas de Sofrência. Depois, a mãe acorda, abre as janelas bruscamente, começa a arrastar os pés para e para cá pelo corredor, a falar com a gatinha em voz alta, a cozinhar alguma coisa no fogão, a bater alguma peça de roupa no tanque – tudo isso enquanto o sol segue seu lento percurso rumo ao poente.
“Venham conferir nossos produtos de limpeza, dona”, explodem os alto-falantes do caminhão que passa pela rua.
A vizinha do lado liga o rádio com um Pagodinho mequetrefe.
As Sapatonas da casa de cima começam a sapatear sobre a laje com suas cento e uma toneladas.
Conversas, gritos e latidos ecoam vizinhança afora.
Tudo isso enquanto o sol segue seu lento percurso rumo ao poente.
É inútil tentar resistir na cama, fingir que ainda dorme. Inútil continuar mantendo os olhos fechados; o barulho está chamando lá do lado de fora: ei amigão, levante-se!