Lágrimas douradas de saudade
Hoje chorei de saudade
De um tempo que nunca vivi.
Chorei por nunca ter tido oportunidade
De voar com um bem-te-vi.
Chorei por vidas passadas
Quando corria nua pela mata.
A mulher era endeusada, respeitada.
A mãe natureza, criadora nata.
Lágrimas de cachoeira suave
Desciam pelo meu rosto.
Caiam pelo desgosto
Como canto de engaiolada ave.
Chorei por um caminho torto.
Sofrimento de dores de parto
Por um filho natimorto.
De desamparo me farto.
Chorei por ver a humanidade
Perdendo a humanidade, sem identidade.
Chorei pela separação do natural.
Dura amargura visceral.
Ruído insistente perturbador
É a cidade com tudo que o humano criou.
Chorei bem de mansinho, bem devagarinho
Lamentado a falta de carinho.
As matas respiram e clamam.
Eu as ouço chorando desoladas
E chorei e disse: “eu as amo!”
Minha alma grita esfolada.
Chorei de leve como chuva pura
Que dá vida e que reaviva.
Chorei e me derramei: desesperada tentativa.
Clamei aos céus e venero sua altura.
Mas eu ainda choro e oro.
Ouros de lágrimas eu penhoro.
Guardo nos cofres sagrados do universo.
E saudades demonstro nos meus versos.