Quem vai parar a chuva?
Véspera de Carnaval. Desde então, nós não nos falamos. Porém, eu ainda continuo frequentando o Dentista. Continuo indo até o Centro, apertando aquela campainha, subindo os degraus da escada até o consultório, me deitando naquela Cadeira Odontológica. Contudo, apesar das restaurações, obturações e extrações, aquele sorrir atoa de outrora me fugiu do rosto. E também, do que me serve morar alguns metros antes do buraco e ter dentes bonitos, se eu não sinto mais vontade de sair e muito menos de abrir a boca para se quer falar? Sem contar que, para mais de mês tem chovido e eu estou preso aqui nesse quarto onde tudo está parecendo como uma fotografia de algum filme: a bicicleta encostada num canto da parede, o barulho da chuva caindo lá do lado fora, a aranha pendurada na sua teia de costume, os livros espiando e sendo espiados lá da escrivaninha, o Toca-discos girando – Credence Clearwater Revival – Who’ll stop the rain?