"Retrato do Abismo"
De repente eu me vi no fundo,
O mundo abriu um decrépito porão.
Escuridão: insuportável infinito
Um grito no labirinto sem eco
Oco em queda livre no tempo
Atento ao ultimato da renúncia
A presença reticente do espelho
Velho, carcomido, catatônico, tropeço
E começo exausto a procura por deus
Eu, Prometeu acorrentado, ainda sonho:
Estranho, cidades, línguas, eu!
Além do nada, ausência de mim
sem chão , sem cão, sem fim!
Um querubim toca sua trombeta
A marcha da despedida.
A vida apodrece num lago tranqüilo:
Grilos acusam o silêncio da noite perdida.